“Introdução ao ‘Pensamento vivo de Pethö Sándor’ – Depoimentos” – Maria Luiza Simões (Psicóloga)

Sob o título acima, no dia 30 de abril de 1992, foi realizada na PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo uma homenagem ao Dr. Pethö Sándor, então recentemente falecido.

Nesse evento, organizado e coordenado pelo Professor Dr. Efrain Bocalandro, em auditório daquela Universidade foram apresentados vários depoimentos de pessoas que conviveram com Sándor, seja como professor, terapeuta, professor ou na vida familiar.

Participaram dessa homenagem, na sua maioria, profissionais da área da Psicologia cuja formação foi especialmente marcada pelo contato com Sándor, mas também alguns de seus familiares, relatando em seus depoimentos de que forma o contato com sua personalidade marcante foi decisivo em seus trajetos pessoais e profissionais.

Apresentaremos aqui alguns desses depoimentos, começando por Maria Luiza Simões, sua esposa e companheira de trabalhos nos últimos anos vividos no Brasil. 


Depoimento de Maria Luiza Simões (
Realizado durante a homenagem prestada a Pethö Sándor pela PUC-SP em 30 de Abril de 1992) 

O pensamento está vivo…

O pensamento naqueles que aqui vivem.

Este pensamento foi implantado no corpo.

Daí a resposta instintiva: continuar, continuar o trabalho.

A notícia se espalhou: era para continuar o trabalho.

Foi uma única voz.

A resposta também foi em uníssono: SIM.

Porque aprendemos que:

não podemos fazer nada fora do nosso corpo – “Da própria pele ninguém escapa”;

as nossas pernas nos permitem trilhar o caminho;

os nossos braços nos permitem contactar;

os nossos joelhos foram feitos para dobrar-se.

Se os braços perderam o seu sentido, se as pernas estão frouxas ou paralisadas porque também se esqueceram para que servem, veias e artérias são impedidas de fazer circular o sangue quente.

E aprendi que:

devo buscar em tudo ou colocar em tudo a medida certa, a proporção adequada.

O homem não deve querer ser, enquanto homem, mais do que ele é e a Vida não deve ser encarada como menos do que ela é, se é Vida.

Daí que as coisas se invertem: não perguntar “o que eu quero da Vida”, mas sempre, “o que a Vida quer de mim”.

Devo ser o Observador por excelência. Isto é, prestar atenção. É relegere o sentido escolhido para explicar a palavra religião: ler de novo, ler cuidadosamente.

Devo ser o Observador para SABER, sabendo devo QUERER como uma criança sabe querer, querendo devo OUSAR ser livre e ser louco para farejar a meta, confiar e me entregar e ousando devo CALAR – o desnecessário, o supérfluo, o apressado -. Porque tudo tem o seu momento, se é legítimo, se é da LEI.

E não eu devo determinar isso mas a Vida o determina.

E se tudo é mesmo assim, não devo, não posso julgar.

Isso não dá em outra coisa nem significa outra coisa senão uma simplicidade absoluta. A simplicidade não carrega senão o essencial.

Daí que tudo é extremamente leve e sendo leve, tudo é possível e a alegria se instala. E a Luz se espalha.

Abro um livro e aparece o último parágrafo da Introdução:

“Para finalizar lhes peço que sigam adiante. Que nada do passado – inércia física, depressão mental, falta de controle emocional – os impeça de começar de novo com alegria e dedicação e fazer o necessário progresso que os tornará aptos para servir de forma mais útil e mais ativa. Que ninguém se veja inibido pelo passado ou pelo presente mas que possa viver como Observador, é o pedido constante e fervoroso do seu instrutor”. (O Tibetano)

O meu intelecto é uma bela armadilha, uma arma de dois gumes.

Ele corta, ele separa, para que eu possa enxergar melhor.

Mas só o Amor junta e dá forma.

O intelecto só tem sentido se está vivo.

E só está vivo se serve a AÇÃO.

Dia 28 de janeiro, logo depois, nosso caseiro-companheiro, de 16 anos de convívio, foi o primeiro a contar que tinha entendido o exemplo – nunca palavras – e que o carrega debaixo da própria pele: “Vou chamar Osmar e nós dois vamos acabar hoje mesmo, para ele, o pedaço que falta na canaleta.”

Foi a primeira homenagem, o primeiro sinal de que o pensamento está vivo, para sempre, porque implantado no corpo pelo corpo.