“Compartilhando Sandór” – Cidinha Aguilar Clemente

 

Os depoimentos que estão a seguir são colaborações de pessoas que cederam suas recordações para compor a sinfonia de recordações acerca do nosso mentor comum. Está ausente de meu propósito comparar, julgar ou esgotar as possibilidades de outros depoimentos ricos sobre o convívio com o Dr. Sandor. Que a apreciação do que Cidinha e Adelina contam estimule outras pessoas a narrarem seus momentos de descoberta.

Cidinha Aguilar Clemente, fonoaudióloga:

Quando tinha 20 anos, usava botas ortopédicas e pesava 87 quilos. Tinha distonia muscular. Além disso, devido a uma escoliose e lordose, usava um colete de aço. Ione Galliotti, minha terapeuta na época, recomendou que eu fosse conhecer o prof. Sandor.

No momento em que o vi, ele já ganhou a minha confiança. Era uma figura alta, olhar penetrante com um misto de bondade e respeito. Pediu que eu tirasse as coisas que me apertavam: anéis, relógio, afrouxasse a roupa e tirasse os sapatos. A coisa mais difícil para mim, era mostrar os pés que eu considerava muito feios com os dedos em garra apesar de toda fisioterapia que já fizera. Tinha um complexo muito grande, mas a confiança que aquele homem passava, fez com que tranqüilamente eu tirasse as botas… as meias… deixando meus pés livres e à mostra.

Sandor começou a tratar meus pés com a Calatonia. Era um toque leve e sutil que se irradiava pelo sistema nervoso.

Com o tempo foi ele me reorganizando a nível neurológico, emocional, fisiológico e até familiar. Sem abrir a boca, Sandor foi fazendo um trabalho cujos efeitos pude perceber na transformação do meu corpo, em sua tonicidade, em minha postura corporal e frente à vida. Para mim ele foi um médico, um mestre, um pai. Ele me abriu um caminho para coisas que eu estava buscando, mas para as quais não sabia dar nome. Era como se eu estivesse saindo de um grande ofuscamento e sendo trazida para a realidade da vida.

Esse meu primeiro encontro com Sandor deu inicio a um convívio que durou 26 anos. Durante esse tempo, ele me deu apoio em momentos difíceis da minha vida, de uma maneira simples e eficiente, com aquele respeito extraordinário que tinha pelo ser humano. Foi meu terapeuta, meu mestre e meu amigo e a ele, devo muito do que sou hoje.

Aprendi, nos cursos que dava no Sedes Sapientiae que a Calatonia não era apenas um toque, mas tinha tudo a ver com as bases neurológicas, fisiológicas repercutindo na área emocional, psíquica e social do ser humano. Eu mesma percebi através do trabalho a que me submeti com Sandor que as dificuldades que eu tinha tanto físicas, emocionais, de relacionamento, assim como o modelo que tinha assimilado por ser filha única com três irmãos, de família patriarcal, foram se transformando.

Nos 26 anos de convivência ele sempre teve a mesma postura quer dando aulas no Sedes Sapientiae, quer orientando grupos de leitura sobre Jung, quer me orientando quanto a meus clientes. Ouvia os casos com os olhos fechados e quando eu terminava, abria e falava com tal precisão, mostrando o caminho onde havia o nó que impedia o fluir da vida para essa pessoa. Era um conhecedor de almas!

A Calatonia é um trabalho feito através de toques sutis na pele onde temos uma rede periférica do sistema nervoso que se chama dermátomos. À medida que se toca na pele do cliente, trabalhamos com seu invólucro, portanto, com seus limites.

O mais interessante é observar que conforme se vão aplicando com maior sutileza os Toques de Reajustamento nos Pontos de Apoio, a Descompressão Fracionada, a pessoa vai voltando a se perceber no mundo com maior clareza. Isso ajuda a resolver as dificuldades de família, de relacionamento, desatando as couraças de que tanto Reich fala.

Depois de um tempo, meu peso foi para 64 quilos. Larguei o colete e descalcei as botas para sempre.

Hoje, trabalho com a Calatonia não só porque estudei mas porque vivenciei na pele os efeitos quase mágicos que ela traz para os clientes.


Relatos de casos tratados com a Calatonia:

Meu pai, há 7 anos fez três craniotomias para retirar coágulos, provenientes de uma queda, ficando na UTI com todo tipo de problema que uma pessoa de 83 anos pode apresentar numa circunstância dessa.

Apliquei os Toques Sutis do Dr. Sandor e aos pouco a pouco sua respiração, seus sistemas foram se harmonizando dando-lhe a oportunidade de reconquistar os movimentos de andar, de falar, de escrever podendo de novo integrar-se na vida. Até hoje, papai com 90 anos ganhou autonomia e qualidade de vida.

Um cliente de 39 anos chegou num grau elevado de stress. Como grande executivo carregava não só a responsabilidade empresarial num ritmo aceleradíssimo, como também problemas de ordem familiar em sua família de origem que muitas vezes lhe impediam de aproveitar o convívio com sua esposa e filhos.

Através da Calatonia foram se organizando seu tempo, seu ritmo e a ansiedade começou a diminuir e novas oportunidades despontaram, abrindo-lhe inúmeras fronteiras e dando-lhe a chance de escolha. A mudança veio lentamente, mas firme. Hoje ele desfruta de uma posição de destaque numa grande empresa multinacional. Com a organização conquistada, leva em seu trabalho não a tensão ou o ritmo frenético comum nas empresas desse porte, mas a serenidade, o discernimento e força na luta pelo sucesso.

Assim podemos ver quão poderosa é a Calatonia e os Toques Sutis pois atuam em várias camadas não só físicas, emocionais, relacionais, levando o indivíduo a agir com maior assertividade.

Um outro cliente me procurou com gagueira causada decorrente de um acidente de trânsito. Isso interferia muito em sua vida familiar, profissional, social e ele não conseguia interagir e cada vez mais se isolava e era infeliz. Era uma bola de neve.

Com o tratamento conscientizou-se que sua gagueira era acidental, e, o levava a pensar mais rápido do que conseguia falar. Trabalhamos a respiração, a postura, os órgãos fono-articulatórios, sempre encerrando com a Calatonia. As barreiras foram vencidas, a auto-estima aflorou , a ansiedade abaixou e seu canal de comunicação abriu. Hoje ele é um grande empresário, a mão direita do pai, constituiu família, assumiu a presidência de um grande clube social.

Um casal não podia ter filhos. Ela tem só um ovário e já tinha perdido três bebês. Comecei a fazer um trabalho corporal em grupo, com os dois e, individualmente fazia a Calatonia.

Após 3 anos e meio ela sentia-se diferente, bem disposta e percebendo alterações em seu corpo pedi que fosse ao ginecologista: estava grávida de três meses e 6 meses depois nasceu a VITÓRIA que hoje está com 9 anos.

Uma grande atriz de teatro e televisão me procurou porque não conseguia trabalhar. Perdia a voz após 10 minutos de entrar em cena. Devolveu duas vezes os ingressos do teatro lotado. Fiz um trabalho nos braços, e nas mãos, por sugestão do Dr.Sandor com movimentos sutis, em cada falange, de acordo com a respiração.

A imagem que teve durante o trabalho era que eu estava tirando uma casca como de cobra de cada segmento tocado.

— Deixe que a imagem venha com mais força, falei. Ela começou a ter um tremor e caiu no choro. Depois percebeu que quando sua voz embargava, 10 minutos de cena, era uma frase que tinha a ver com seu pai em sua saída do campo de concentração na última guerra mundial. Era uma história que ele lhe havia contado quando pequena. Fui algumas vezes aplicar Calatonia antes dela entrar em cena até que ela superasse essa emoção que a peça lhe trazia. Conseguiu fazer mais de cem apresentações com muito sucesso.

Assim vemos que a Calatonia acorda lembranças antigas, carregadas de emoções, possibilitando soltá-las e deixando novamente a vida fluir.

Sandor participou muito de minha vida, desde o namoro, casamento, trabalho, em tudo. Era muito reservado. O único abraço que recebi dele foi depois de 26 anos, num dezembro, quando ia para Pocinhos, um mês antes de sua morte. Perdi meu mestre, mas antes de ir embora passou para nós que fomos seus alunos, tudo o que pode do seu conhecimento.
Relato de alguns sonhos:

Uns dias antes do seu falecimento sonhei que estava no meu consultório, arrumando o jardim, com uma hera e bambu, querendo fazer ikebana e não dava certo. Dr.Sandor entrou e disse

— Agora você é o bambu!

— Mas eu não tenho flexibilidade!

— Quanto mais flexível você for, menos o impacto a colherá. Mais força você terá.

Daí saiu o meu arranjo respeitando a fragilidade da hera e conseguindo envergar o bambu.

Em outro sonho, ele me disse também: — A força não é medida por resistência, mas por persistência e flexibilidade.

A maior contribuição no campo profissional que recebi foi a simplicidade e precisão com que tratava os problemas que eu levava para ele. Como ele conhecia a alma humana!

A Calatonia nos leva a descobrir nossa força vital, nosso ritmo e a forma de empregá-los.

A presença do Dr. Sandor é bem forte em meu coração, na minha família, no consultório, em minha vida.