“A Origem da Calatonia” Rosa Maria Farah

Adaptação do texto: “A Origem da Calatonia” de Rosa Maria Farah, 2016.

A técnica foi criada por Pethö Sándor, um médico húngaro que se radicou no Brasil desde 1949 (até seu falecimento em 1992) aqui desenvolvendo trabalhos clínicos, de ensino e de pesquisa iniciados quando ainda vivia na Europa na época do pós-guerra.

Na época da Segunda Guerra Mundial, Sándor trabalhou no atendimento de feridos e refugiados em deslocamento pela Europa. Naquele período, dadas as precárias condições geradas pela guerra, com frequência via-se diante de situações em que os recursos médicos, além de escassos, eram de pouca ajuda no atendimento a seus pacientes. Nesse contexto, Dr. Sándor foi designado para o cuidado de pacientes com os mais variados traumatismos, conforme ele mesmo relatou ao falar sobre o surgimento de seu método:

“Idealizou-se este método durante a Segunda Guerra Mundial, com base nas observações feitas em casos de readaptação de feridos e congelados, no período posterior à grande retirada da Rússia. Num hospital da Cruz Vermelha foram atendidas as mais diferentes queixas na fase pós-operatória, desde membros fantasma e abalamento nervoso, até depressões e reações compulsivas (SÁNDOR, 1974, p. 92)”.

Era praticamente impossível estabelecer um limite entre o traumatismo físico e o sofrimento psicológico que atingia estes pacientes. Mas Sándor já estava atento às estreitas relações existentes entre os processos corporais e o funcionamento psicoemocional. Foi, portanto, nestas condições dramáticas de trabalho que ele tentou utilizar os ‘métodos de relaxamento’ usuais na época, como o método de Schultz (SÁNDOR, 1974, pp. 69-83). Porém, não obteve sucesso, pois a gravidade da condição destes pacientes não lhes permitia a concentração necessária e eles não se sentiam motivados a colaborar com a aplicação deste método. Foi quando Sándor observou o seguinte:

“Percebeu-se então, que além da medicação costumeira e dos cuidados de rotina, o contato bipessoal, juntamente com a manipulação suave nas extremidades e na nuca, com certas modificações leves quanto à posição das partes manipuladas, produzia descontração muscular, comutações vasomotoras e recondicionamento do ânimo dos operados, numa escala pouco esperada (SÁNDOR, 1974, p. 92).”

Em linguagem coloquial, podemos dizer que Sándor está nos orientado com base em seu conhecimento médico e em sua intuição, sobre a atuação terapêutica propiciada pelo contato suave, atento e cuidadoso, pois ao aplicar toques sutis nesses pacientes, ainda que de modo não estruturado em uma técnica específica, observou reações positivas e indícios de recuperação tanto física como psicológica.

Aqueles que conhecem um pouco da história pessoal do Dr. Sándor sabem o quanto ele, bem como sua família, foram duramente atingidos pelos horrores da guerra. No entanto, percebemos nas entrelinhas de suas colocações a atitude compassiva e amorosa que assumia diante do sofrimento de seus pacientes…!

Sándor trabalhou na Alemanha por mais de três anos, cuidando de pacientes com queixas psicológicas ou neuropsiquiátricas. Neste período já começava a sistematizar e fundamentar sua técnica – a primeira sequência de toques sutis da Calatonia – com base nos conhecimentos da Psicologia e da Neurologia. Em 1949 emigrou para o Brasil, onde prosseguiu seu trabalho, atuando principalmente na área da Psicologia.

Vivendo já em São Paulo, como psicoterapeuta e docente, começou a aplicar e ensinar a Calatonia, que passou a ser conhecida por seus alunos, como um “método de relaxamento”. E, como tal, passou a ser utilizada no atendimento psicoterapêutico.

Ao longo de mais de mais de 50 anos de trabalho, o Prof. Sándor acrescentou inúmeros procedimentos à sequência inicial conhecida como Calatonia. Sempre mantendo as mesmas características básicas de aplicação (ou seja, estímulos táteis realizados de forma suave), idealizou várias sequências de toques que passaram a ser conhecidas, juntamente com a Calatonia, como Toques Sutis. Além disso, realizou e transmitiu aos seus alunos farta pesquisa sobre os processos anátomo-fisiológicos envolvidos na aplicação destes toques.

No Brasil, o ensino formal do método da Calatonia tem se dado predominantemente por meio de disciplinas ou módulos específicos, oferecidos em cursos de Graduação de Psicologia, particularmente na PUC-SP e de pós-graduação lato sensu, como o curso de especialização em Psicologia Analítica e Abordagem Corporal – Jung & Corpo, promovido pelo Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Este curso derivou-se dos extintos cursos – Terapia Psicomotora – posteriormente designado como Psicologia Analítica Coligada a Técnicas Corporais, também ofertados pelo Instituto Sedes Sapientiae, juntamente com o curso de extensão, conhecido como Cinesiologia Psicológica, recentemente desativado, que acolheu durante anos, alunos que já haviam cursado disciplinas na PUC, ou os outros cursos do Instituto Sedes. Sándor ministrou aulas em todos esses cursos durante mais de 20 anos, até 1992, ano de sua morte.

Após o falecimento de Sándor, em 28 de Janeiro de 1992, em plena atividade criativa, um grupo de ex-alunos deu continuidade aos seus ensinamentos, mantendo ativas estas disciplinas e cursos, que seguem a metodologia de ensino de Sándor, de caráter predominantemente vivencial e aprendizado contextualizado de várias técnicas corporais, além da Calatonia e dos toques sutis. Entre as inciativas deste grupo, foi criado o CID, (Centro de Integração e Desenvolvimento), grupo informal, cuja denominação foi inspirada na sigla utilizada por Sándor em apostilas, confeccionadas e distribuídas por ele em seus cursos, que tem por objetivo preservar os princípios originais da Calatonia.