Calatonia e Jung

Se aceitarmos que a principal meta da Psicoterapia é a expansão da consciência do paciente, incluindo a consciência de si mesmo, e se aceitarmos ainda que cada pessoa é um todo indivisível e que seu corpo e seu psiquismo são apenas diferentes formas de expressão desta mesma unidade sincrônica, então entenderemos a necessidade de incluir o corpo no contexto do atendimento psicoterápico. Dentro da perspectiva Junguiana, o corpo é parte inalienável do processo de “vir a ser um todo”, que é a Individuação.

A Calatonia é um instrumento de acesso à memória psicológica “gravada” no corpo físico, através da mobilização espontânea de conteúdos internos do paciente. Ela atua potencialmente em vários níveis da complexa estrutura psicofísica de cada indivíduo, trazendo à tona a evocação de vivências que podem ser elaboradas depois, em psicoterapia verbal.

Para alguns, tais vivências podem surgir sob a forma de reações ao nível fisiológico e/ou motor (como sensações ou movimentos mais ou menos sutis por todo o corpo); para outros, em termos afetivo/emocionais, (na forma de recordações, associações, etc.); para outros ainda, podem ocorrer alterações do estado de consciência análogos àqueles promovidos pela meditação, com a eventual recordação de imagens. Estas imagens, do ponto de vista psicoterapêutico, têm um valor semelhante ao valor dos sonhos, e podem ser elaboradas em terapia como vivências simbólicas, metáforas, etc.

Por sua atuação global, a Calatonia em geral mobiliza conteúdos que têm uma prioridade ou premência psicológica de se manifestarem, da mesma forma como ocorre com sonhos. São conteúdos que estão “maduros” para aflorarem à consciência e que têm total pertinência ao processo psicodinâmico que o paciente está vivendo.

É aí que observamos o caráter “auto-regulador” deste tipo de abordagem corporal, que não tem a intenção de mobilizar um determinado aspecto específicos, mas de promover uma vivência que mobilize espontaneamente o que for mais adequado para equilibrar o paciente naquele momento. Essa capacidade de auto-regulação é também conhecida como a “sabedoria do corpo”, que pode por si só, se lhe for permitido, expressar suas necessidades e se reorganizar na direção da homeostase (equilíbrio), dentro do ritmo e intensidade peculiar a cada indivíduo.

Veja Relatos Clínicos

Conforme podemos perceber no parágrafo acima, a forma de trabalho terapêutico que Sándor desenvolveu traz implícita uma determinada maneira de entender tanto a natureza do ser humano, quanto a função da psicoterapia.

A Calatonia, mais do que uma simples técnica (que se define pelos seus procedimentos práticos), é um método de trabalho terapêutico, método este que integra elementos da Psicologia Profunda (em especial as idéias de Jung) ao trabalho corporal, para promover a integração psicofísica do indivíduo.